terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Gomorra


Nasci, cresci e achei que iria morrer acreditando que os livros seriam sempre melhores que os filmes que inspiraram. Meus amigos sempre diziam isso. Os críticos sempre escreveram isso. Era, para mim, uma verdade quase inquestionável. Desde "A Fantástica Fábrica de Chocolate". Bons livros costumam gerar bons filmes. Mas, com uma frequência assustadora, os cineastas cometem atrocidades com as obras literárias que decidem encenar. Dois exemplos rapidíssimos: "Pantaleão e as Visitadoras", do Vargas Llosa, que é um livro divertidíssimo mas virou um filmeco. E "Amor nos Tempos do Cólera", obra-prima do Garcia Marques, transformado num filme de quinta. De modo que, quando surge uma exceção à regra, registre-se. É o que ocorre, na minha opinião, com "Gomorra". O filme é de tirar o fôlego. Cru, seco, sem trilha sonora, atores recrutados nas ruas. O filme, para quem não conhece, costura histórias reais da máfia italiana com uma dureza assustadora. Crianças que vestem colete à prova de balas para encarar um ritual de passagem que garantirá uma vaga na máfia. Adolescentes movidos a pó que se divertem disparando tiros de uma Ak47 nos subúrbios de Nápolis. O esquema de pagamento das mesadas para os parentes de mafiosos presos. Notável. O filme é muito melhor do que o livro que o inspirou. O autor é um jornalista italiano chamado Roberto Saviano. O cara tem um mérito brutal. Investigou durante anos a atuação da Camorra italiana. Está jurado de morte. É considerado uma espécie de Salman Rushdie do ocidente. A história que Saviano apurou ao longo de anos de convivência e investigação é fenomenal. Mas ele escreve mal. E acabou fazendo um livro chato.

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